Ícone mundial do automobilismo de alta performance, a montadora alemã Audi anunciou que estará na Fórmula 1 a partir de 2026. Ao que tudo indica, a decisão tem a ver com a meta de associar sua marca com a série de novidades que a competição irá implantar a partir daquele ano, quando novas regras técnicas serão aplicadas para deixa-la mais sustentável.
Dentre as mudanças previstas estão o uso de combustíveis sintéticos (hidrogênio, por exemplo) e motores híbridos. “Além disso, a Fórmula 1 estabeleceu a meta ambiciosa de ser uma competição neutra em carbono até 2030”, acrescenta a Audi, justificando seu interesse em fazer parte do desenvolvimento das novas tecnologias. Vale ressaltar, ainda, que a Porsche, empresa de modelos de alta performance, também cogita a possibilidade de entrar para a Fórmula 1 pelos mesmos motivos que levaram a Audi a tomar a decisão.
A partir de 2026, as unidades de potência dos carros da Fórmula 1 deverão ser formadas por um motor elétrico, bateria, unidade de comando eletrônico e um motor a combustão. O motor elétrico será quase tão potente quanto o motor a combustão, que tem 1,6 litro e uma potência de cerca de 400 kW (algo em torno de 543 cavalos).
Outra razão para a entrada na competição, de acordo com a Audi, é que ela realiza provas em todos os mercados considerados relevantes pela marca. “A série de corridas é um dos eventos esportivos de maior alcance do mundo. Em 2021, mais de 1,5 bilhão de telespectadores assistiram. A Fórmula 1 é popular em mercados importantes, como China e Estados Unidos, e a tendência continua a aumentar – mesmo entre os grupos mais jovens”, diz a empresa.
Laboratório de Fórmula 1 será ligado à divisão Audi Sport
E como alemão não brinca em serviço quando o assunto é eficiência, a unidade de força a ser usada no carro de Fórmula 1 da Audi ganhou um centro de pesquisa de última geração da divisão Audi Sport em Neuburg, no país de origem da marca. Já existem bancadas para testes de motores a combustão, motores elétricos e baterias. Os preparativos adicionais estão sendo feitos em termos de pessoas, edifícios e infraestrutura técnica e tudo vai estar pronto até o fim de 2022. Além disso, uma empresa específica foi criada, como subsidiária da Audi Sport, para o projeto.
Um fato curioso sobre a relação da Audi com a Fórmula 1 é que ela não começa exatamente agora. No início do século 20, quatro montadoras alemãs se uniram para enfrentar as dificuldades econômicas após a depressão que se seguiu à queda da bolsa nos Estados Unidos. Eram elas a Audi, a DKW, a Horch e a Wanderer (o símbolo das quatro argolas da Audi vem desse processo). Nascia ali a Auto Union.
Com uma ajuda financeira de Adolf Hitler, que em seus projetos megalomaníacos investia em tudo que pudesse mostrar ao mundo o poderio alemão, a Auto Union convocou o engenheiro Ferdinand Porsche, o gênio criador do Fusca e outros carros icônicos, para a criação de um carro de corrida de alta performance. Ele desenvolveu, então, o modelo Type C (veja foto abaixo).
Para reduzir custos, Porsche fez uma mudança revolucionária, para a época: colocou o motor na parte traseira do veículo. Para se ter ideia do resultado do trabalho, o Type C tinha mais de 500 cavalos de potência e passava dos 300 km por hora – tudo isso no começo do século passado. Embora o modelo não tenha disputado nenhuma prova de Fórmula 1, conceitos aplicados nele foram adotados no torneio. Um deles é exatamente o motor na parte traseira.
Voltando aos dias atuais, a eficiência da Audi em modelos de competição com propulsão sustentável já lhe dá muito cacife para a entrada na Fórmula 1. Em 2020, por exemplo, ela desenvolveu o RS Q e-tron para participar do Rally Dakar, uma das provas de resistência mais difíceis do mundo. Já na estreia as três unidades do modelo usadas na prova conseguiram completar, juntas, um percurso de 24 mil km. Considerando o desafio de abastecer um motor elétrico em pleno deserto, foi uma conquista memorável.