Os carros chineses não têm tido vida fácil no Brasil. Em parte por causa do Governo Federal, que aumentou, em 2011, em 30 pontos percentuais o imposto de importação sobre os produtos vindos do país asiático, e também pelo comportamento ressabiado de parte dos consumidores. Muita gente se pergunta: vale a pena comprar um carro chinês, considerando fatores como custo de manutenção, reposição de peças e valor de revenda?
Fomos procurar proprietários de veículos chineses que já rodam com seus modelos há pelo menos um ano e podem dar opinião mais consistente sobre a experiência com eles. Há relatos de problemas e decepções, mas também não faltou quem se dissesse satisfeito com seu modelo – e essa satisfação levou ao desejo de, na próxima troca por um modelo mais novo, continuar com um vindo de montadoras da China.
Começando pelas experiências negativas, a cantora e artista plástica Andréa Gois comprou, em julho de 2013, um Lifan X60 depois de pesquisar e ver que ele era um utilitário pequeno com preço mais convidativo que os concorrentes similares, pelo que oferecia de acessórios e espaço. “Fiz o test-drive e me apaixonei por ele por vir todo completo. Tinha até GPS e bancos de couro”, lembra.
Ela conta que durante os quatro primeiros meses com o carro, correu tudo bem. Até que luzes começaram a acender e apagar com frequência no painel. Andréa também reparou outros problemas. “O cinto de segurança soltou enquanto eu dirigia, estava preso com fita isolante. O cabo de aço estava quebrado no meio”, afirma. Falhas no GPS, barulhos nos pedais e revisões consideradas muito caras também se somam às queixas.
A decepção maior com o modelo, no entanto, veio quando ela viajou com ele de Fortaleza até São Paulo. Começou a sair uma fumaça branca do motor e como na sua cidade, Campinas, não existe oficina autorizada da marca, ela levou em um mecânico para saber o que tinha acontecido. Segundo ele, o radiador do veículo precisava ser trocado. Aí começou o maior problema.
“Liguei para a Lifan e informaram que eu podia comprar o radiador, mas tinha perdido a garantia por levado o carro em uma oficina não autorizada. Mesmo assim coloquei e, um dia depois, o carro morreu na estrada. O motor tinha batido”. O resumo de toda a história: o desentendimento levou a uma ação na justiça contra a empresa, envolvendo a compra de um novo motor no valor de 22 mil reais.
O mesmo X60 que decepcionou Andrea, no entanto, foi o protagonista de uma boa experiência de Marck Alessandro Ferreira. Proprietário de uma unidade há aproximadamente um ano e seis meses, ele é só elogios para o carro e para o serviço da concessionária em Fortaleza. “Com mais de 20 mil km rodados, fomos surpreendidos em nossas expectativas. Não só em relação ao próprio veículo, pelo diferencial na relação custo-benefício, quando comparado a carros nacionais da mesma categoria, mas também com o pós-venda”, diz.
Ele lembra que já teve alguns pequenos problemas com o veículo, mas todos foram resolvidos em tempo hábil. Uma vez houve pane por falha na bateria e, de acordo com Marck, mandaram um técnico para trocar a peça sem custo. E em outra situação, o carro teve problema na mola da chave e com o ar condicionado. “Levamos pela manhã e antes do fim do dia o veículo estava consertado, também sem custo”, afirma ele.
A experiência foi tão bem sucedida que Marck já tem planos de trocar o seu X60 por uma versão mais nova do modelo, quando o seu completar três anos de uso. “Também estamos nos programando para comprar, ainda em 2015, a nova versão do sedan 530. Queremos um segundo veículo da Lifan”, comemora.
Outro exemplo de satisfação é o do funcionário publico do Sidney Andrade de Almeida. Ele afirma que comprou um hatch compacto Chery Celer e, depois de 10 meses e cerca de 10 mil km rodados com o carro, ficou tão satisfeito que resolver dar um utilitário Tiggo, da mesma marca, para a mulher. E a confiança não parou por aí: Sidney conta que adquiriu, recentemente, um ultracompacto QQ usado na revenda da Chery em Fortaleza.
Ele elogia a assistência da oficina autorizada de Fortaleza e lembra a única vez em que teve problemas com o carro. “Bati o Celer no meio fio. Levei para o conserto e recebi o carro de volta em 20 dias”, diz. Para o funcionário público, uma das principais vantagens dos modelos chineses que escolheu comprar é a relação custo-benefício, já que os carros vêm sempre com muitos acessórios de segurança e conforto e custam menos que similares nacionais. “O acabamento é mais simples, mas é bom”, garante Sidney, que já indicou a marca para um amigo.
Com experiência na mesma marca, a mestranda Karina Marques, proprietária de um compacto Chery Face desde 2011, afirma que não tem queixas em relação ao carro. “Ele é confortável, tem banco de couro e mostrou boa resistência em uma batida”, lembra. A sua reclamação, no entanto, é com a concessionária autorizada – a mesma que recebeu elogios de Sidney Andrade.
Karina lembra que em 2012 o carro apresentou problema na bateria. Depois de 15 cargas na peça, o veículo parou de vez e, segundo a estudante, ficou mais de dois meses na oficina. O caso acabou indo para a justiça, porque na época ela tinha uma representação e precisava de um meio de transporte para trabalhar. Como resultado da experiência, Karina garante: só não compraria outro modelo chinês por causa do trauma que teve com o pós-venda.
E para fechar, um relato de satisfação vindo de Brasília. Mônica Gondim é proprietária de um compacto Jac J2 há quase um ano e meio. Ela, que afirma dar importância ao relacionamento da empresa com o cliente em relação a fatores como revisão, reclamações, consertos e garantia, garante não se arrepender de ter optado por um modelo chinês.
“A princípio fiquei insegura com a compra, as únicas informações que tinha sobre o carro eram da internet. Queria um carro compacto, mas que fosse confortável e que o motor fosse acima de 1.0”, lembra. Ela se diz satisfeita com o veículo e com a assistência técnica prestada pela Jac Motors. “Nunca tive de trocar peças. Entretanto, já precisei da oficina duas vezes por causa de pequenos acidentes. O conserto foi rápido e perfeito”, garante.
Sobre o carro, ela classifica como “gostoso de dirigir e excelente na estrada”. Além disso, afirma que o modelo faz 13 km por litro e oferece mais conforto para a coluna e visibilidade para o motorista do que o Fiat Palio, seu veículo anterior. Como pontos negativos, observa que o J2 perde um pouco do equilíbrio nas curvas, tem um ar condicionado que demora a gelar e é baixo em relação ao solo. Mas o saldo final é positivo: “quando for trocar de carro, minha primeira opção de compra será na Jac Motors. Estou satisfeita”, finaliza.