BYD – Ao mesmo tempo em que trabalha com cifras bilionárias e produtos com alto valor agregado, a indústria automobilística é uma atividade de muito risco. O investimento em um carro, a despeito de todos os cuidados que venham a ser tomados, pode não dar o retorno que a montadora esperava. E exemplos existem: no Brasil temos modelos como o Chevrolet Sonic, o Hyundai Veloster e o Nissan Tiida. Por isso, uma investida feroz como a da chinesa BYD, que chegou em um país continental e com pouca infraestrutura de recarga, como o Brasil, anunciando um portfólio cuja vedete era o uso de motores elétricos (puros ou combinados com sistemas a combustão), surpreende pela ousadia. Quem seria capaz de apostar no sucesso dessa empreitada?
Pois essa mesma BYD comemorou no dia 14/08, a venda de 150 mil unidades no nosso País. Auto Blog 85 conferiu em Fortaleza, uma das sedes da celebração, e pôde ver a surpresa até nas palavras dos representantes do grupo CarMais, que tem a montadora como uma de suas marcas autorizadas. Segundo o diretor do grupo, Leonardo Dall’Olio, eles tiveram de rever para cima os investimentos na infraestrutura de venda e pós-venda, por causa da demanda maior que a esperada (veja vídeo abaixo, em que ele fala das metas ambiciosas da BYD).
Com presença forte no mercado apenas desde 2022, a montadora tem pouco tempo para mostrar índices de durabilidade e baixa manutenção dos seus modelos, mas aparentemente esse período foi suficiente para agradar consumidores de carros como o Dolphin, que hoje responde por 30% das vendas da marca no grupo CarMais, de acordo com Leonardo Dall’Olio. “A BYD tem o pós-venda estabilizado, funcionando e a venda dos usados acontece com muita tranquilidade. Em alguns modelos, até com fila de espera. É uma surpresa para nós, porque a gente não esperava fila de espera para seminovos”, afirma o executivo.
Sobre a rede de recarga, o grande temor em relação aos carros elétricos, Leonardo garante que hoje, no Ceará, o motorista já encontra, a cada 100 km, aproximadamente, um posto disponível, seja de carregadores das revendas BYD ou de outras empresas que oferecem o serviço para carros de todas as marcas. Auto Blog 85 lembra, no entanto, que a viagem em um elétrico, hoje, demanda uma programação prévia. Tanto para ver a disponibilidade dos carregadores quanto para as pausas necessárias, já que o abastecimento demora mais do que o de um modelo a combustão.
Para reposição de peças, outro potencial gargalo de marcas que ainda estão se consolidando no mercado, o executivo da CarMais assegura que foram tomadas as medidas para que isso não seja motivo para preocupação. “Temos um Centro de Distribuição (CD) em Fortaleza e daqui fazemos o envio para todas as cidades onde temos lojas”. Ele assegura que o tempo de espera para reparos é idêntico ao de autorizadas de marcas que já têm fábricas no Brasil.
E falando em fábrica, o número de 150 mil carros vendidos, celebrado pela BYD, é providencialmente o mesmo da capacidade, por ano, da unidade que ela instalou na Bahia. Ou seja, a empresa sonha alto em relação ao consumo de brasileiros por elétricos e híbridos. Mas o fato de ter produção local, isso significa que os modelos vão baratear mais um pouco? De acordo com Henrique Antunes, diretor comercial da montadora no Brasil, não há muita relação entre valores e esse fato novo. “A linha 2026 custa mais barato do que custava a linha 2025. Porque como a gente já tinha a previsibilidade do início da montagem do carro no Brasil, a gente antecipou o benefício para o cliente final. O Dolphin Mini, que é o nosso carro de entrada, custava R$ 122.800 e hoje é R$ 119.990. O Song Pro custava R$ 204.000. Hoje ele é R$ 199.900”, explica.
Promessa de 250 pontos de recarga da BYD até o fim do ano
A visão da BYD sobre a rede de recarga, segundo Henrique, é aposta na capilaridade através de empresas parceiras e das próprias concessionárias autorizadas. “A gente entende que a infraestrutura de recarga precisa ser um business para alguém. Hoje ela é um business para os nossos funcionários. Só entre eles, nós já temos quase 100 carregadores de alta potência e 100 de média e baixa potência. Hoje temos 187 concessionários. Até o final do ano serão 250. Todos eles com carregador de alta potência”, promete.
Ainda sobre a recarga, o executivo afirma que a meta da montadora é investir em tecnologias cada vez mais rápidas e descarta opções como, por exemplo, postos de troca da bateria, como algumas empresas têm investido no país asiático. Segundo ele, por lá existem carregadores rápidos em grande quantidade, e esse é o foco da BYD. Ele lembra o sistema Flash Charger, lançado pela empresa este ano e que é capaz de, em 5 minutos de carregamento, fornecer 400 quilômetros de autonomia para o carro.