Há alguns séculos, a tração animal deixou de ser o principal recurso para a mobilidade humana. Mas curiosamente, os bichos seguem fazendo parte do universo automotivo – mas desta vez para ajudar vítimas de acidentes, que tiveram algum tipo de ferimento e precisam de reabilitação física e emocional. A 20ª edição da Reatech (Feira Internacional de Inclusão, Acessibilidade e Reabilitação), que será realizada entre 6 e 8 de novembro em São Paulo, vai reunir especialistas de todo o Brasil para discutir, segundo os organizadores do evento, “o poder transformador dos tratamentos assistidos por animais”.
Organizada em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a feira traz duas formações ligadas ao tema: o Curso PET – Tratamento Assistido por Animais, e o Workshop de Equoterapia. O primeiro irá abordar novas fronteiras da terapia assistida para vítimas de acidentes, apresentando alternativas como cães, gatos e até répteis como espécies que podem contribuir para o bem-estar humano.
A reptilterapia é uma abordagem que usa cobras e outros répteis como mediadores terapêuticos em contextos controlados. “Embora ainda pouco conhecida no Brasil, tem ganhado espaço por seu impacto emocional e psicológico”, dizem os responsáveis pela Reatech. O contato com um réptil, geralmente associado ao medo, torna-se ferramenta terapêutica: ao segurar uma cobra de forma segura e orientada, as vítimas de acidentes aprendem a lidar com o inesperado e a controlar suas respostas emocionais. A ideia é que esse enfrentamento simbólico fortalece a autoconfiança e reduz a ansiedade, com resultados positivos já observados em pacientes com fobias e traumas.
O curso também prevê assuntos como manejo ético dos animais coterapeutas, protocolos de segurança, zoonoses e avaliação de resultados terapêuticos. A proposta é formar profissionais capazes de unir ciência, empatia e responsabilidade, reconhecendo o animal como parte ativa do processo de cura.
Cavalos, um bom recurso no tratamento de vítimas de acidentes
Já o Workshop de Aprimoramento Técnico em Equoterapia, promovido pela Associação Nacional de Equoterapia (Ande Brasil), reunirá profissionais que vêm usando o cavalo em processos terapêuticos e esportivos. A psicopedagoga Liana Pires Santos, representante da Ande Brasil e diretora do GATI Equoterapia (Grupo de Abordagem Terapêutica e Integrada), explica que o evento trará novidades: “Estamos levando modalidades que nunca foram apresentadas na Reatech, como o Volteio e o Enduro. São práticas que unem o esporte à reabilitação e podem inspirar centros de equoterapia em todo o país a inovar e diversificar seus atendimentos”. O volteio trabalha equilíbrio e ritmo corporal, e o enduro estimula resistência e coordenação.
O workshop também vai discutir desafios do esporte paraequestre, avanços científicos e a importância da formação continuada. “Hoje temos cerca de 500 centros de equoterapia no Brasil, e mais de 100 só em São Paulo. Reunir esses profissionais para atualização e troca é fundamental para o avanço da área”, destaca Liana.
Os organizadores da Reatech afirmam que as atividades — o workshop, o curso PET e outras ações — compõem um mosaico de inclusão e aprendizado. “Em um tempo em que a saúde mental e o bem-estar ganham prioridade global, as terapias com animais lembram que, muitas vezes, o caminho para a cura começa com algo simples: reconectar-se com a natureza e reaprender o valor da confiança”, concluem.
A Expo Brasil Paralímpico + Reatech, de acordo com os organizadores, é “o maior encontro do Brasil dedicado à inclusão, à acessibilidade e ao protagonismo das pessoas com deficiência em todas as esferas da sociedade”. A união das duas iniciativas se dá pelo fato da Expo Brasil ser uma grande vitrine do esporte como agente de transformação social e a Reatech um importante evento voltado para a reabilitação e a tecnologia assistiva (conjunto de produtos, equipamentos, recursos, estratégias e serviços que promovem a funcionalidade, a autonomia e a independência de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida).
A Expo Brasil é um evento promovido pelo Comitê Paralimpico Brasileiro (CPB), a entidade que rege os esportes adaptados no País. O CPB é o responsável pela participação do Brasil em competições continentais, mundiais e em Jogos Paralímpicos, além de promover o desenvolvimento das modalidades desde a iniciação até as categorias de alto rendimento.